segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tipologia Textual: NARRAÇÃO (NARRADOR - PERSONAGEM)

NARRAÇÃO (NARRADOR - PERSONAGEM)

Narrador-personagem é aquele que conta a história e também é um dos personagens. Ele se situa nos acontecimentos e fala de si, empregando verbos e pronomes na 1ª pessoa (eu).

Santinho

Lembro-me com clareza de todas as minhas professoras, mas me lembro de uma em particular. Ela se chamava Dona Ilka.Curioso: porque escrevi "Dona Ilka" e não Ilka? Talvez por medo de que elas e materializasse aqui do meu lado e exigisse o "Dona", onde se viu tratar professora pelo primeiro nome, menino? No meu tempo ainda não se usava o"tia". Elas podiam ser boas e até maternais, mas decididamente não eram nossas tias. A Dona Ilka não era maternal. Era uma mulher pequena comum perfil de passarinho. Um pequeno passarinho loiro. E uma fera.
Eu era um aluno "bem-comportado". Era um vagabundo, não aprendia nada, vivia distraído. Mas comportamento, 10. Por isto até hoje faço verdadeiras faxinas na memória, procurando embaixo de tudo e em todos os nichos a razão de ter sido, um dia, castigado pela Dona Ilka.Alguma eu devo ter feito, mas não consigo lembrar o quê. O fato é que fui posto de castigo. Que consistia em ficar de pé num canto da sala de aula,com a cara virada para a parede. (Isto tudo, já dá para ver, foi mais ou menos lá pela Idade Média.)1 Mas o que eu nunca esqueci foi a Dona llka ter me chamado de "santinho do pau oco".
Ser bem-comportado em aula não era uma decisão minha nem era nada de que me orgulhasse. Era só o meu temperamento. Mas a frase terrível da Dona Ilka sugeria que a minha boa conduta era uma simulação.Eu era um falso. Um santo falsificado! Não vou dizer que todas as minhas dúvidas existenciais datem do epíteto da Dona Ilka, mas, depois disso, pelo resto da vida, não foram poucas as vezes em que um passarinho imaginário com perfil de professora pousou no meu ombro e me chamou de fingido. Os santinhos do pau oco passam a vida se questionando.
Já outra professora quase destruiu para sempre qualquer pretensão minha à originalidade literária. Era para fazer uma redação em aula sobre a ociosidade, e eu não tinha a menor idéia do que era ociosidade. Se a palavra fora mencionada em aula, tinha certamente sido num dos meus períodos de devaneio, em que o corpo ficava ali, mas a mente ia passear. E então, me achando formidável, fiz uma redação inteira sobre um aluno que precisa fazer uma redação sobre a ociosidade sem saber o que é isso, sua agonia e finalmente sua decisão de fazer uma redação sobre a ociosidade, etc. A professora chamou a atenção de toda a classe para a minha redação. Eu era um exemplo de quem acha que com esperteza pode-se deixar de estudar e por isto estava ganhando um zero exemplar. Só faltou me chamar de original do pau oco.
Enfim, sobrevivi. No ginásio, todos os professores eram homens, mas não lembro de nenhuma marca que algum deles tenha deixado. As relações com as nossas pseudo-mães, no primário, eram muito mais profundas. As duas histórias que eu contei não têm nenhuma importância. Mas olha as cicatrizes.
(Luís Fernando Veríssimo)

1. Releia este trecho:
Eu era um aluno “bem-comportado”. Era um vagabundo, não aprendia nada, vivia distraído.

a)      Em que pessoa estão as formas verbais e o pronome destacado?

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b)      O narrador participa dos fatos que relata, ou fica de fora das ações?
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2. Na narração, além do narrador, há também os personagens, que vivem os acontecimentos da história.
a) Nesse texto, quem é o personagem? Justifique sua resposta.
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b)      Pode-se dizer que há um narrador-personagem, ou seja, que narra e faz parte da história? Por quê?
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3. Outros dois elementos importantes da narrativa são o espaço e o tempo em que a história acontece.
* Em que local e tempo ocorrem os fatos?
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4. Qual o enredo ou os fatos narrados?
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5. O que o autor quis dizer com “faço verdadeiras faxinas na memória”?
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6. Quais os adjetivos usados pelo autor no texto para caracterizar-se?
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7. Na sua opinião, por que ele fala que ganhou um zero exemplar? Qual sua atitude para que a professora fizesse isso?
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